O modelo atitude-comportamento (alimentar) no veganismo |
Decisões vistas como ponderaçäo de vantagens e desvantagens
Na base de qualquer decisäo humana está um processo de avaliaões de
interesses, avaliaões que nem todos consideram serem feitas de forma
lógica. O que se vai comer hoje, ou se alguém se considera veganista é o
resultado dum processo de (re)avaliaçäo de consideraões, geralmente
feito muito rápidamente mas que a longo termo nos pode levar a tomar
decisões diferentes.
O que para uma pessoa é uma importante emoçäo é para outra apenas um
devaneio irracional. Todavia podemos considerar as emoões como um
factor que entra em jogo na decisäo de fazer ou de näo fazer algo. |
Neste ensaio descrevemos o comportamento alimentar humano como colocado
numa linha contínua que vai de mais, passando por menos até nenhum uso
de animais. Dum lado deste contínuo encontram-se consideraões egoístas,
por exemplo "a carne é saborosa e saudável e por isso os animais têm de
sofrer, e näo me importo com isso". Do outro lado do contínuo estäo as
consideraões altruistas do veganista que tenta usar os animais o menos
possível, nem sequer de forma mínima ou mesmo indirectamente, como
alguns vegetarianos ainda toleram. Muitos vegetarianos ainda bebem leite
enquanto que alguns veganistas nem sequer querem fotografias se forem imprimidas usando qualquer produto animal como a gelatina. |
Factores de maior ou menor influência na decisäo
Uma desvantagem importante para os veganistas é o número mais limitado
de escolhas alimentares. Uma vantagem importante é uma consciência mais
limpa, o que também pode ser interpretado como uma forma de egoísmo.
Consideraões de ordem espiritual e de saúde podem ser razões para
abolir o uso de animais, mas podem também serem abandonadas se as
convicões se mudam. Pode-se sofrer duma alergia e por isso näo se comer
carne. Pode-se näo querer ingerir hormonas, ou comer menos gorduras. Säo
razões egoístas que näo estäo realmente basedas no interesse pelo bem-estar dos animais.
Factores importantes que influenciam os processos de tomada de decisões
säo a informaçäo, a responsabilidade e a eficácia. Quem näo sabe o que
se passa na indústria alimentar e ignora os abusos que os animais nela
sofrem näo se apressará a deixar de comer carne. é portanto necessário
sabe-lo e compreender como a comida é produzida. Também é preciso saber
que há alternativas. Quem pensa que só assim se pode produzir ou pensa
que a carne é necessária para a saúde näo vai começar a pensar em alternativas.
Também é preciso que essa pessoa sinta a responsabilidade que o seu
comportamento alimentar tem no sofrimento do animal. Quem näo a sente
pode ver as consequências negativas, mas pode bem manter o seu padräo
alimentar, O mesmo é válido quanto à eficácia do comportamento. "Posso
fazer algo, e isso faz alguma diferença?" säo as perguntas que as
pessoas se põem. O natureza massiva da cultura carnívora tende a
influenciar negativamente o que o indivíduo acredita poder fazer para
melhorar as condiões deploráveis.
Além das avaliaões das vantagens e desvantagens dum certo comportamento
alimentar, também o ambiente que o rodeia é um factor que entra em jogo
sob a forma de pressäo social. é um factor que se torna ainda mais
manifesto quando uma pessoa declara ser veganista. As pessoas podem
reagir apoiando ou discordando. Este ataque näo significa que as pessoas
näo concordam com o veganista. Também pode significar que as pessoas
inconscientemente notam que os seus próprios comportamentos podiam ser
melhores. Para disfarçar essa falta passam ao ataque. Por isso é difícil,
especialmente para os veganistas, avaliar correctamente as reacões dos outros |
Resumindo num modelo
Todas as consideraões acima apresentadas pertencem ao modelo atitude-comportamento conhecido e frequentemente usado na psicologia para tornar o comportamento humano compreensível.
De forma esquemática, e passo a passo.
- O conhecimento e a compreensäo do que está mal leva as pessoas a
pensar ou a sentir.
- a. As vantagens e desvantagens do comportamento alimentar actual
e das alternativas visíveis säo avaliadas de forma mais ou menos
consciente.
b. A opiniäo de pessoas importantes que o rodeiam (p.ex. conjuge,
vizinhos, pais, autoridades) é objecto de conjecturas ou é averiguada
e também é considerada.
- Se as avaliaçòes por fim säo favoráveis a um comportamento alternativo,
as pessoas desenvolvem intímamente a intençäo de se passarem a comportar
dessa forma alternativa.
- Simultâneamente forma-se uma opiniäo pessoal sobre a responsabilidade
própria e a eficácia do comportamento. Se esta opiniäo é positiva, há
uma grande probabilidade que a pessoa modifique o seu comportamento. Se
a avaliaçäo quanto a este aspecto näo fôr positiva, a pessoa muda
possívelmente de convicões, mas sem as põr em prática.
- As pessoas que decidiram tentar o comportamento alternativo,
ganham experiência com ele, e isto conduz de novo a adaptaões das
(avaliaões das) consideraões que levaram à decisäo.
Concluindo: saber da existência do que está mal na bio-indústria näo
conduz necessáriamente à escolha de se tornar veganista, sobretudo se a
avaliaçäo das vantagens e desvantagens fôr desfavorável. Isto pode
acontecer por exemplo porque se pensa que a alimentaçäo veganista näo
sabe bem, ou que o efeito é nulo, porque se tem medo da opiniäo dos
outros, porque se acha que (primeiro) devem ser as autoridades a intervir. |
Exercer influência nas decisões das pessoas
Para quem, sendo veganista, quer persuadir outras pessoas é importante
saber a posiçäo em que estas se encontram neste processo de decisões e
quais säo os seus interesses. Estará o outro bem informado? O seu
comportamento é coerente e conforme as suas convicões? Se näo fôr é
muito provável que este se sinta hostilizado se fôr frontalmente
confrontado e que passe ao ataque. Nesta caso é preciso dominar a arte
de mantendo uma atitude aberta, reconhecendo as razões do outro, criar
uma atmosfera em que ele sinta a segurança necessária para poder expôr as suas dúvidas.
As normas sociais e a pressäo que os outros exercem influenciam tanto os
jovens como os adultos, Quando o adolescente se quer demarcar dos seus
pais tende a comportar-se de forma oposta à deles. Quando as relaões
melhoram volta geralmente a aderir aos hábitos alimentares dos pais.
"Role models" säo as pessoas que podem exercer uma importante funçäo
pelo seu exemplo. A cultura juvenil conhece os "straight edgers", que
säo os que além duma forma de vida veganista e de forma geral moderada
e partilham de certos gostos musicais. Por outro lado uma visibilidade
demasiado forte pode conferir um estigma que poderá ser um traväo à
mudança de convicões. (um "crista de galo" geralmente näo é levado a
sério por um "cavalheiro") é práticamente impossível transformar alguém num veganista. é mais fácil
consciencializar as pessoas de que näo näo se pode sem vergonha abusar dos animais.
Näo faz sentido tentar convencer outra pessoa a adoptar uma vida
veganista se a distância ao outro fôr demasido grande. Quanto a estes
casos o veganista tem de aceitar que talvez tenha razäo, e que talvez
lhe dêem razäo, mas que na sociedade actual muitos poucos factores
existem que atraiem a um estilo de vida veganista. (Manter) uma boa dose
de paciência é essencial. |
Quando um diálogo aberto entre um veganista e um carnívoro é possível, e
o carnívoro está interessado nas vantagens da vida veganista porque
conhece as desvantagens de comer carne, este modelo de comunicaçäo pode ser usado. |
Modelo de comunicaçäo |
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aspecto de conteúdo |
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emissor |
aspecto de expressäo |
mensagem |
aspecto de apelo |
receptor |
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aspecto relacional |
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Dependendo do que se sabe que o receptor acha importante (quais säo os
seus interesses) é possível transmitir a mensagem duma forma mais eficaz
Um carnívoro pode por exemplo preocupar-se com a sua saúde (interesse 1)
ou a sua consciência (interesse 2) devido a comer carne produzida pela
bio-indústria.
No caso de se querer convencer alguém que deixar de, ou passar a comer
menos carne causa menos sofrimento e por consequência menos objecões
de consciência, pode-se aplicar o modelo acima apresentado da seguinte
forma: |
Aplicado ao veganista que quer convencer um carnívoro a comer menos
carne: |
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Comer carne causa problemas de consciência |
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veganista |
deixar de cooperar na causa do sofrimento animal deixa-me a consciência (mais) limpa |
comer carne da bio-indústria causa sofrimento animal |
comer menos carne dá-me uma consciência mais limpa |
carnívoro |
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um estilo de vida veganista causa menos problemas de consciência |
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Importante é que a mensagem seja transmitida de forma clara e
compreensível. O apelo näo deve restringir demasiado ou ser sentido como
uma forma de imposiçäo. é preciso ter em conta a possibilidade de
dissonância cognitiva: O carnívoro vai procurar informaçäo e argumentos
que acalmem a sua consciência, em vez de procurar auxílio para mudar o
seu padräo de alimentaçäo.
Quando se quer mudar a atitude de alguém é preciso preparar bem o que
fazer
Seguem-se algumas dicas:
- Tente descobrir quais säo as ideias e opiniões centrais nas
quais se baseia a atitude da pessoa. Faça uma estimaçäo de quais säo os
assuntos mais melindrosos e seja cuidadoso com eles. Se näo mostra
qualquer compreensäo pelas regras normas e opiniões que alguém considera
muito importantes, é muito provável que essa pessoa se feche para si.
- Tente descobrir quais as ideias e opiniões que a pessoa tem que se
baseiam em erros factuais. Tente fazê-lo ver que está equivocado.
- Tente descobrir em que a informaçäo as ideias e opiniões que a pessoa
tem estäo baseadas. Se fôr patente que ele/a está mal informado ofereça
a informaçäo crucial que ele näo tem.
- Tente descobrir que sentimentos e emoões fazem parte da atitude da pessoa. Será que há emoões e sentimentos negativos que bloqeiam uma
mudança de atitude? Tente substituir estas por emoões e sentimentos
positivos (cozinhe por exemplo uma deliciosa refeiçäo vegetariana para
uma pessoa que teve uma experiência desagradável com tofu mal
preparado.)
- Se alguém tiver mesmo a intençäo de modificar o seu comportamento, ma algo a impede de o fazer, tente afastar este obstáculo.
E por fim: Näo deixe que o óptimo se torne o inimigo do bom. Quando
alguém pressionado pela sua consciência escolhe comer carne de produçäo
biológica é melhor näo azedar a relaçäo inistindo veementemente que a pessoa faria melhor se deixasse totalmente de comer carne. |
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